VOTO CASSADO, DEMOCRACIA ARRASADA

POR JULLY CAMILO

Na manhã desta quarta-feira, 4, dia este que jamais esquecerei, acordei com o peito apertado e sentindo uma tristeza inexplicável. Ao tomar o café, preferi não ler os periódicos matinais nem ver o noticiário, pois, tinha quase certeza que algo de ruim havia acontecido durante a madrugada, como de fato ocorreu. Meu governador, Jackson Lago, havia sido cassado, ou melhor, ele foi arrancado violentamente do cargo de GOVERNADOR DO ESTADO DO MARANHÃO, sem o meu consentimento e os da maioria que o puseram ali.

Sou jornalista e funcionária do Jornal Pequeno com muito orgulho, e o fato da linha do meu jornal ser contra o sarneismo, por várias vezes no exercício de minhas funções ouvi piadinhas do tipo: “Votou no 12 porque o chefe mandou, né?!” ou “Com Jackson Lago no poder o Jornal Pequeno vai se dar de bem!!!”, entre outras frases absurdas que nem valem a pena ser citadas. Só esclarecendo, trabalho no JP há quase três anos e nunca soube que o mesmo dependeu ou depende de governo algum para se manter. Também descobri pesquisando a história deste jornal, que essa luta contra a Oligarquia Sarney advém desde a época do saudoso Zé Pequeno, José Ribamar Bógea. Portanto, não se trata de rixas ou briguinhas políticas, mas, de uma postura histórica que já perdura por décadas.

Nesses meus quase três anos de JP, nunca havia escrito um artigo ou texto em que minha opinião prevalecesse, ou pudesse vir à tona, mas, excepcionalmente hoje, senti a necessidade de externar a angústia que aflorou em meu peito e me consome desde o início daquela nebulosa manhã. Senti-me ofendida, lesada e moralmente ferida por não ter respeitado o meu direito de voto. É impressionante como o processo democrático foi ignorado, pisoteado e jogado na lama, como se não tivesse valor algum ou simplesmente não representasse nada. Fiquei a me perguntar: de que adiantou viajar duas vezes ao interior do estado “por livre e espontânea vontade”’, para exercer a minha cidadania no ano de 2006, se hoje, quatro ministros decidiram por mim e por todo o meu estado?

É inadmissível ouvir os argumentos da parte denunciante neste processo de cassação, sob a alegação de que votos teriam sido comprados, quando todos os votantes são maiores de 16 anos e acredito que já conseguem discernir muito bem seus desejos e suas vontades, sem que seja necessária uma cesta básica ou nota de R$ 20 para a escolha do candidato na urna. Confio no meu governador e acredito que ele não se aproveitou de nenhuma artimanha, mas venceu a eleição porque teve o apoio da maioria população e não por conta de um suposto favorecimento da máquina pública. É impossível aceitar que Roseana Sarney (PMDB-MA), segunda colocada na eleição de 2006, seja empossada, uma vez que a cassação do primeiro lugar não revela a vontade do povo para que o segundo lugar assuma.

Caso a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seja mantida, em favor a cassação, o mais justo, correto e democrático seria uma nova eleição. Afinal, não é que o povo queira insistentemente Jackson Lago, o povo não quer mais é viver oprimido e ser pisoteado pelo Clã Sarney, que teima em querer tomar na base da força um mandato que não lhe pertence. O meu desejo mais profundo seria que Roseana, Flávio Dino e outros perdedores aceitassem a soberania popular e parassem de querer tirar do povo a qualquer custo, um direito adquirido por eles: o de escolher o seu próprio governante. Pois, caso contrário, é melhor que a democracia seja esquecida de vez e que a ditadura volte a imperar em nossos dias atuais.

Externo aqui a minha solidariedade ao meu eterno GOVERNADOR ELEITO, Jackson Lago e que estas palavras sejam um abraço em sua alma e um beijo em seu coração.